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Ensinar português a hispanohablantes (Parte II) – Nosso Idioma

Após ter estruturado o meu curso em grandes áreas temáticas que me pareceram eventualmente do interesse dos meus alunos, resolvi abordar, logo na segunda sessão, os modos de tratamento. Expliquei que, por uma questão de deferência, seria conveniente que, numa primeira abordagem, tomassem alguma cautela e tratassem por “você” os seus interlocutores. O meu aluno concordou comigo e fez-me chegar algumas situações de relacionamento profissional em que, tal como na Espanha, dirigiu-se ao seu superior por “tu” e foi bastante mal interpretado.

Realçou o fato de os portugueses manifestarem uma atitude bastante mais distanciada para com os seus pares e mais ainda para com os seus subalternos, sendo quase obrigatório o uso do título acadêmico. Nesse aspecto e na sua opinião, os espanhóis são bastante mais descontraídos.

Na terceira sessão, avançamos para temas do cotidiano, nomeadamente a alimentação/hábitos à mesa e horários. Neste campo, a aula tornou-se uma verdadeira maratona de esclarecimentos!!! Constatamos que os portugueses adotam um horário mais temprano do que os espanhóis que comem tarde, especialmente no que diz respeito às refeições principais. No entanto, no que toca a acordar e levantar, todos se levantam cedo!

A descrição da disposição da mesa foi toda uma aventura com objetos desconhecidos (talher, garfo, copo, taça, etc) tal como alguns bons petiscos ou temperos bem portugueses (polvo, salsa, sobremesa, etc). Convém esclarecer que, para os espanhóis, a sobremesa é o postre e não é nunca delicioso, mas esquisito, e a sobremesa é a longa conversa prolongada à mesa depois de refeições…

Muitas outras partilhas gostaria de apresentar que, infelizmente, aqui não cabem mais. Contudo, lições de grande valor aqui ficam: ensinar o português como língua segunda a um falante que, por força da aproximação geográfica ou cultural, já tem algum conhecimento da língua portuguesa não pode NUNCA ser encarada como uma tarefa facilitada pela aproximação linguística. Pelo contrário, a tarefa é, vezes sobejas, mais desafiante, senão reflexionemos no complexo que pode ser ensinar português a um falante crioulo… Mas, o enriquecimento cultural e lexical de ambas as partes neste desafio é por demais apaixonante!

*Brígida Costa Macedo Diogo nasceu na França e mudou-se para Portugal na adolescência. Licenciou-se em Línguas e Literaturas Modernas pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e cursou Mestrado em Cultura Portuguesa Contemporânea, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Desde o seu início profissional como professora, tem lecionado a várias faixas etárias desde o ensino superior até às escolas secundárias portuguesas.

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