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10 perguntas para 10 professores

 

Quer participar? Responda a estas perguntas.

 

1. O que é que o/a trouxe para o mundo do português como língua estrangeira? 


Diniz Borges (Tulare Union High School e College of the Sequoias, EUA): Estive na comunicação social alguns anos, mas sempre quis ser professor. Primeiro estava para ensinar literatura e ciências políticas, mas fui convidado para tentar ensinar português e apaixonei-me.


Ana Clotilde Thome Williams (Northwestern University, EUA): Formei-me como professora de português e francês. Fiz mestrado em Linguística Aplicada no Brasil. Depois doutorado. Sempre tive paixão pelo ensino de línguas e pelo português em especial, nos EUA onde vim morar.


Cassia De Abreu (San Diego State University e University of California San Diego, EUA): Estudei Letras com português e inglês como línguas de ênfase. Era professora de inglês no Brasil. Vim fazer mestrado nos Estados Unidos e acabei recebendo a oferta para ensinar PLE.


Eugênia Fernandes (University of California, Davis, EUA): A interface multi e intercultural do ensino de língua portuguesa. Na graduação, pude observar uma aula de PLE. Foi quando tive a epifania: é desses sujeitos o curso dos rios que desejo mudar.


Liliane Santos (Universidade Lille 3, França): Já era professora de PLM e tinha projetos sobre o PLE desde 1998/99. Aprofundei-me na área depois de decidir trabalhar na França.


Christiane Moises (Universidade de Brasília e Instituto Rio Branco - MRE, Brasil): Quando era aluna da universidade gostava de participar naquilo que a mesma me oferecia. Como já trabalhava na embaixada americana, pleiteei uma vaga naquilo que hoje chama-se PEC-G e Celpe–Brás.


Denise Barros Weiss (Universidade Federal de Juiz de Fora, Brasil): Minha história com o PLE está ligada à minha função na Universidade Federal de Juiz de Fora. Comecei a ter contato com esse mundo quando me graduei em letras. Comecei como monitora das disciplinas de PLE, depois passei a ser a professora.  Estou na ativa há mais de vinte anos.


Isabel Margarida Duarte (Universidade do Porto, Portugal): Ter saído a colega que era Diretora do Mestrado em PLE e eu ser, de entre as professoras possíveis, a única Associada. Depois, aos poucos, o ter percebido a pujança da área, as possibilidades enormes de criar emprego jovem, a vontade de perceber mais da área (porque eu era do Português língua materna), o prazer de ensinar a nossa língua / cultura / literatura nas suas diversas variedades, o encanto de perceber os diferentes estatutos que tem pelo mundo.


Luis Gonçalves (Princeton University, EUA): Depois da minha licenciatura é em Ciências da Comunicação pela Universidade Fernando Pessoa. No meu último semestre, tive uma professora visitante da Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill, que sugeriu que estudasse com ela, e foi em Chapel Hill que fiz mestrado em Literatura Luso-Brasileira e doutoramento em Línguas Românicas-Português, com especialização em Estudos da Comunicação e certificado em Estudos Culturais. Este programa incluía dar aulas de português como língua estrangeira. Isto foi em 1997 e ensino PLE desde esse ano.


Simone Sandes Tosta (Casa do Brasil no México): Sou formada em Letras, e no Brasil dava aulas de Português e Inglês. Vim morar no México e comecei a trabalhar com ensino de PLE. São quase 20 anos na área  e hoje tenho minha própria escola de Português no México. 

 

 

2. Como é a sua semana de trabalho típica?


Ana Clotilde Thome Williams (Northwestern University, EUA): Muito ocupada. Leciono 3 cursos diferentes por dia 2as, 4as, 6as. Passo 3as e 5as preparando aulas, corrigindo provas e além disso, esquematizando e oferecendo atividades culturais e acadêmicas.


Cassia De Abreu (San Diego State University e University of California San Diego, EUA): No outono, ensino 16 unidades, 8 unidades na SDSU e 7.5 na UCSD. Aulas de segunda a quinta-feira. Block schedule 2x week. Leciono para o DOD com aulas virtuais nas sextas.


Eugênia Fernandes (University of California, Davis, EUA): Intensa quando tenho três cursos diários. São por volta de 30 horas semanais que incluem sala de aula (15h), atendimento aos alunos, planejamento, produção acadêmica e reflexões à prática.


Liliane Santos (Universidade Lille 3, França): Trabalho de domingo a domingo, na universidade e em casa: preparação de aulas, orientação de alunos, gestão do departamento, e muito trabalho burocrático.


Christiane Moises (Universidade de Brasília e Instituto Rio Branco - MRE, Brasil): São 18 h de instrução para alunos estrangeiros e outras 10 aproximadamente com meus estagiários e orientando-se. Em casa, umas duas/cinco horas para preparação/semana.


Denise Barros Weiss (Universidade Federal de Juiz de Fora, Brasil): Minhas atividades na UFJF se dividem em ministrar as disciplinas para os alunos estrangeiros - duas disciplinas de quatro horas semanais - e as de formação de professores de português para estrangeiros - mais seis horas semanais em sala de aula. Além disso oriento meus alunos de graduação e de pós-graduação.


Isabel Margarida Duarte (Universidade do Porto, Portugal): De segunda até sexta até às 16. Aulas às segundas (2 horas), terças (6 horas) e quintas (2 horas). O resto do tempo na Biblioteca, no gabinete em atendimento e orientações, algumas reuniões (pertenço ao Conselho Científico), uma visita diária às Relações Internacionais, por ser a coordenadora Erasmus da Faculdade. Também trabalho em casa...


Luis Gonçalves (Princeton University, EUA): Dou aulas todos os dias, tenho 12 horas de contacto com os alunos, mais horários de atendimento e outras atividades extracurriculares que faço com eles.


Simone Sandes Tosta (Casa do Brasil no México): Coordeno um grupo de 20 professores, administro os cursos e a logística. Ocasionalmente dou cursos de especialização para alunos de nível avançado e cursos preparatórios para o Exame Celep-Bras.


Diniz Borges (Tulare Union High School e College of the Sequoias, EUA): Saio de casa às 6:55 da matina, preparo aulas e dou alunas das 8 às 3, fico na escola até às 4 a preparar o próximo dia.  Às segundas e quartas dou aulas das 5 às 7. Trabalho 60 horas por semana.

 


3. Em geral, quem são os seus alunos? Por que estudam português?


Cassia De Abreu (San Diego State University e University of California San Diego, EUA): Na sua maioria falantes de espanhol nativos ou de herança. Uma minoria fala somente inglês e/ ou outra lingua estrangeira. Atualmente, tenho alguns falantes de herança de português também.


Eugênia Fernandes (University of California, Davis, EUA): São, em sua maioria, interessados no mercado de trabalho no Vale do Silício. Cerca de 30% deles têm o português como língua de herança (em especial, com familiares vindos dos Açores).


Liliane Santos (Universidade Lille 3, França): A maior parte dos meus alunos está inscrita numa graduação/ licenciatura de português (do 1° ano ao doutorado). Uma pequen(íssim)a parte está inscrita em outros diplomas e tem o português como opção.


Christiane Moises (Universidade de Brasília e Instituto Rio Branco - MRE, Brasil): Na UnB são alunos de Intercâmbio (bolsa Santander, por exemplo) alunos de Pós-graduação que necessitam do português para redigir suas teses e alunos do Instituto Rio Branco - diplomatas.


Denise Barros Weiss (Universidade Federal de Juiz de Fora, Brasil): O grupo é geralmente formado por intercambistas de graduação ou de pós-graduação. Mas juntam-se a eles pessoas que precisam estudar português e que estão na cidade, geralmente a trabalho em alguma instituição de ensino.


Isabel Margarida Duarte (Universidade do Porto, Portugal): Os meus estudantes estrangeiros são Erasmus ou, então, estudantes do Mestrado de PLE: no mestrado, há chineses, vietnamitas, franceses, espanhóis, italianos, sérvios. E bastantes estudantes dos países da CPLP: timorenses, cabo-verdianos, moçambicanos, guineenses…


Luis Gonçalves (Princeton University, EUA): Estudantes universitários, geralmente, são falantes de espanhol que entram no meu curso intensivo. São americanos, mas tenho muitos alunos internacionais. Uma percentagem pequena, são falantes de herança.


Simone Sandes Tosta (Casa do Brasil no México): São adultos e precisam do português por questões de trabalho, crescimento profissional ou por terem amigos brasileiros. De maneira geral, o português é a segunda língua estrangeira deles. Em sua maioria mexicanos e estrangeiros cuja língua materna é o espanhol.


Diniz Borges (Tulare Union High School e College of the Sequoias, EUA): 45% de origem portuguesa, 40% de origem hispânica e 15% de outras nacionalidades. Os de origem portuguesa por razões afetivas e de herança, os hispâncios para aprenderem uma terceira língua.


Ana Clotilde Thome Williams (Northwestern University, EUA): Estudantes universitários, entre 18 a 22 anos. Alguns são falantes de língua de herança e querem aprender melhor, têm os que sabem espanhol e os que veem no português uma nova oportunidade.

 


4. Qual foi a situação mais difícil que você enfrentou como professor de português e como a resolveu? 
Eugênia Fernandes (University of California, Davis, EUA): O marido de uma aluna árabe não permitia que ela assistisse às aulas. Ele não queria aprender a língua, mas matriculou-se no curso para vigiá-la. Após integrá-lo, ele se tornou um aluno de êxito.


Liliane Santos (Universidade Lille 3, França): Como professora, não sei... Teria que pensar mais. Como orientadora, o mais complicado foi ter orientanda que queria defender tese/dissertação contra a minha opinião. Deixei ir. A aluna foi reprovada.


Christiane Moises (Universidade de Brasília e Instituto Rio Branco - MRE, Brasil): Um embaixador dos EUA, nos anos 90, que não reagia a absolutamente nada em sala de aula. A descrição não cabe em 200 palavras, mas ele me incitou a preparar exímias aulas!


Denise Barros Weiss (Universidade Federal de Juiz de Fora, Brasil): A situação mais difícil foi com meu primeiro aluno de português, um japonês bem mais velho que eu (que tinha 22 anos...). Ele era meu aluno particular, e tinha aulas na minha casa. Um dia ele me perguntou o que significava prostituta. Depois dar mil explicações, disse: mulher que faz sexo por dinheiro. Foi bastante constrangedor para ele e para mim.


Isabel Margarida Duarte (Universidade do Porto, Portugal): Assistir a uma apresentação interminável e confusa de uma estudante polaca que não tinha proficiência oral, tentando que os colegas não se impacientassem e saíssem da sala, procurando encorajá-la com o olhar e tendo de reagir logo a seguir, sem poder ser muito severa, mas não podendo fazer uma apreciação falsa.


Luis Gonçalves (Princeton University, EUA): Quando comecei a trabalhar na Columbia University em 2004, não havia nenhuma tecnologia disponível nas salas. Na UNC Chapel Hill tínhamos tudo na sala e eu tinha muitas aulas preparadas com audiovisuais que não era possível usar. O departamento comprou projetores e colunas de som, e eu tinha que carregar de sala para sala um computador, o projetor e as colunas de som, além das minhas coisas.


Simone Sandes Tosta (Casa do Brasil no México): Há cerca de 4 anos, recebemos um aluno surdo, que aprendeu português de maneira autodidata, e quis vir à escola para socializar e continuar aprendendo. Ele fazia leitura labial, e inclusive podia vocalizar. Foi todo um desafio, pois ele estava num grupo e tínhamos que procurar estratégias para atender ele e ao mesmo tempo todo o grupo. O aluno chegou a concluir os 6 níveis do curso (Nível avançado).


Diniz Borges (Tulare Union High School e College of the Sequoias, EUA): Adotar manuais e utilizar as novas tecnologias para ensinar a língua portuguesa. Criar materiais e projetos que motivem os alunos – resolveu-se com muito trabalho.


Ana Clotilde Thome Williams (Northwestern University, EUA): Problemas técnicos, projetor que não funcionou. Resolvi com criatividade, imaginação, minimizando o problema e focando no aluno.


Cassia De Abreu (San Diego State University e University of California San Diego, EUA): Um aluno internacional da China que tinha um inglês muito fraco e nenhum outro conhecimento de outra língua estrangeira que eu soubesse. A aluna não conseguiu aprender muito. Teve muita dificuldade.

 

 

5. Como você aprendeu inglês/francês/espanhol/uma língua estrangeira? Você ensina da mesma forma?
Liliane Santos (Universidade Lille 3, França): Em casa, na escola secundária e na universidade (no Brasil). Depois, na universidade e no dia a dia na França. Não ensino da mesma forma.


Christiane Moises (Universidade de Brasília e Instituto Rio Branco - MRE, Brasil): Aprendi inglês e espanhol em escola de línguas.


Denise Barros Weiss (Universidade Federal de Juiz de Fora, Brasil): Meu ensino de inglês foi uma mistura de metodologia estrutural com outras. Decorei diálogos, recitei listas de palavras, mas aprendi muito mais ouvindo música e assistindo a filmes. Francês, que aprendi somente para ler, foi um sofrimento maior, com várias tentativas malsucedidas. O doutorado e a obrigação de ler me ajudaram a aprender, mas nunca foi muito fácil. Acredito ter incorporado essas experiências na minha maneira de ensinar português.


Isabel Margarida Duarte (Universidade do Porto, Portugal): Francês aprendi pelo método direto, com muita repetição, aulas sempre em francês. Inglês aprendi de forma mais tradicional possível: aulas em português, cópia da transcrição fonética que antecedia os textos... Não. Não ensino da mesma forma. Procuro ser bastante mais comunicativa, variada, criativa, usar mais materiais autênticos.


Luis Gonçalves (Princeton University, EUA): Aprendi inglês e francês em aulas profundamente estruturais. Aprendi espanhol em imersão. Na UNC em Chapel Hill tive o privilégio de ter excelentes aulas de metodologias de línguas estrangeiras e nunca ensinei da forma que aprendi. As minhas aulas são muito mais comunicativas, baseadas em projetos e com o máximo de engajamento comunitário e atividades extracurriculares possível. A própria avaliação é completamente diferente, baseada em modos comunicativos e competências.


Simone Sandes Tosta (Casa do Brasil no México): Inglês e espanhol aprendi no Brasil, com professores brasileiros. O curso de inglês foi longuíssimo, e precisei de quase 6 anos para alcançar um nível decente de comunicação. É algo impensável hoje em dia demorar tanto tempo num curso. Não gostei nem uso atualmente a abordagem que tinha naquele momento para aprender o inglês. Era muito ouvir e repetir, e pouco comunicativo. Com o espanhol a aprendizagem foi mais acelerada, mas mesmo assim focada em gramática. Acho que em ambos os casos faltou mais comunicação e interação com a cultura, costumes e hábitos dos falantes da língua.


Diniz Borges (Tulare Union High School e College of the Sequoias, EUA): Aprendi numa escola americana – tento ensinar de forma comunicativa. 


Ana Clotilde Thome Williams (Northwestern University, EUA): Escola no Brasil. Não. Procuro ser bem dinâmica, criativa, os tempos mudaram, não havia a tecnologia de hoje. Invisto nisso e nas necessidades comunicativas e interpessoais do estudante.


Cassia De Abreu (San Diego State University e University of California San Diego, EUA): No Brasil, inglês. Curso de línguas e na universidade. Acho que ensino muito melhor do que da maneira que aprendi.


Eugênia Fernandes (University of California, Davis, EUA): Aprendi inglês em escolas de língua, espanhol, de forma autônoma, e francês, pela Aliança Francesa. Minha prática é bem diferente das metodologias de ensino das escolas por onde passei.

 


6. Na sua experiência, o que é fundamental na conceção de um curso de português?


Christiane Moises (Universidade de Brasília e Instituto Rio Branco - MRE, Brasil): Que haja aplicação de uma linguística/interculturalidade plural e da valorização da cultura do outro.


Denise Barros Weiss (Universidade Federal de Juiz de Fora, Brasil): Há uma necessidade de balanço entre os aspectos funcionais e estruturais da língua portuguesa, nem sempre fáceis para os alunos, com uma visão da língua como instrumento de comunicação entre pessoas, com suas especificidades e necessidades de comunicação. Isso faz de cada curso uma mescla especial de informações, ainda que haja uma base comum.


Isabel Margarida Duarte (Universidade do Porto, Portugal): Conhecer o nível dos alunos. Perceber os respetivos objetivos. Traçar objetivos, ou fazer projetos. Pensar no léxico e nas estruturas linguístico-discursivas que de que os alunos vão precisar para levar a cabo as atividades e tarefas planificadas. Escolher materiais motivadores e variados. Conseguir que os alunos comuniquem em português, dado o bom clima da aula.


Luis Gonçalves (Princeton University, EUA): Primeiro, é fundamental entender onde o curso se encaixa dentro da sequência de cursos de um programa de português. Segundo, é fundamental começar de trás para a frente, estabelecendo primeiro os  objetivos finais da aprendizagem, o que permite conceber um curso baseado em proficiência, com prazos realistas, e com base na atualidade. Terceiro, é fundamental trabalhar com um quadro de referência que descreva níveis de proficiência (eu trabalho com o guia do ACTFL) para saber o que os alunos devem conseguir fazer para alcançar o nível de proficiência seguinte e estabelecer evidências dessa aprendizagem. Com os objetivos finais e as evidências de aprendizado, podemos então conceber a avaliação sumativa do desempenho dos alunos e planear o curso em termos de documentos reais e instrução.


Simone Sandes Tosta (Casa do Brasil no México): Organizar um curso de maneira gradual, equilibrando situações de fala, estrutura gramatical, cultura e uso da língua. Usar material autêntico e oferecer um curso que seja prático e comunicativo, na fala e na escrita, com discussão de tópicos atuais (e não apenas estereótipos).


Diniz Borges (Tulare Union High School e College of the Sequoias, EUA): Promover a língua como uma língua viva que é das mais faladas no mundo e criar projetos em que os alunos tenham que usar a língua dentro e fora da sala de aula.


Ana Clotilde Thome Williams (Northwestern University, EUA): Incentivar o estudante a usar a língua de forma comunicativa e ter prazer em aprendê-la. Fazer coisas na língua.


Cassia De Abreu (San Diego State University e University of California San Diego, EUA): Entender a teoria do ensino de línguas e saber como traduzir e por isso em prática na sala de aula. Comprehensible input galore! A sala de aula é um palco.


Eugênia Fernandes (University of California, Davis, EUA): Autenticidade: dos materiais à prática, um casamento de abordagens de ensino e a fuga de um só material como insumo.  Pensar no português como língua internacional traz mais empoderamento aos alunos.


Liliane Santos (Universidade Lille 3, França): Ajudar o aluno a se tornar um usuário autônomo da língua.

 

 

7. O que você procura num livro para ensinar português? Esse livro existe no mercado?
Denise Barros Weiss (Universidade Federal de Juiz de Fora, Brasil): Não há livro perfeito para ensino de português, especialmente quando se tem turmas multiétnicas. Portanto, o professor tem de ter uma variedade de materiais para preparar suas aulas, de modo a ter ferramentas de que possa lançar mão quando necessário.


Isabel Margarida Duarte (Universidade do Porto, Portugal): Não usamos. Deveria ter o português em diferentes variedades, géneros discursivos muito variados, material áudio também, registos mais formais e menos formais.


Luis Gonçalves (Princeton University, EUA): Um livro deve servir de suporte para os alunos estudarem em casa de forma independente. O livro deve oferecer uma variedade de exercícios que, de preferência, sejam baseados em documentos reais e que preparem os alunos para as atividades e interações que vamos fazer em aula.


Simone Sandes Tosta (Casa do Brasil no México): Eu montei meu próprio material e o que usamos na minha escola. Não conheço ainda um material que seja o ideal. Isso acho que não existe, pois a língua é um mecanismo vivo, muda sempre e o material tem que ser constantemente atualizado. Um livro fica velho.


Diniz Borges (Tulare Union High School e College of the Sequoias, EUA): Não acredito que existem manuais perfeitos e por isso só os uso para suplementar as minha lições.


Ana Clotilde Thome Williams (Northwestern University, EUA): Boa diagramação, contextualização do português no mundo, exemplos de língua falada, não apenas 'escrita' ou 'gramatical'. Gosto do Ponto de Encontro, mas está ficando 'outdated'.


Cassia De Abreu (San Diego State University e University of California San Diego, EUA): Autenticidade nos diálogos. Acredito na análise do discurso, mesmo que seja em nível de textos semi-scripted, que representem melhor a forma de falar das pessoas. O livro Muito Prazer tem um pouco.


Eugênia Fernandes (University of California, Davis, EUA): Procuro um livro que mostre as diversidades linguístico-culturais entre vários países da CPLP e que permita outras fontes de insumo na sala de aula. Um material não estático. Não o encontrei ainda.


Liliane Santos (Universidade Lille 3, França): Não uso livros e não consulto nenhum já há uns 20 anos -- se não for mais (!).


Christiane Moises (Universidade de Brasília e Instituto Rio Branco - MRE, Brasil): Isto é muito abstrato. Se falar em livro para anglófonos/francófonos é um tipo de necessidade. Se for hispanos outras e línguas distantes outra mais específicas ainda. Utilizo vários.

 


8. Como você traz as comunidades migrantes de língua portuguesa e a realidade dos países de língua portuguesa para a sala de aula? 


Isabel Margarida Duarte (Universidade do Porto, Portugal): A partir dos próprios alunos, quando há alguns de herança; procurando dar a conhecer os destinos das migrações de língua portuguesa; exemplificando com diferentes testemunhos, sobretudo orais.


Luis Gonçalves (Princeton University, EUA): Uso muito a internet, vídeos, imagens, textos e som e muito agradeço a todos os que colocam online todo o tipo de material contemporâneo. Também costumo levar os meus alunos ao Ironbound em Newark, um bairro da cidade que tem uma considerável comunidade portuguesa e brasileira, e visitamos clubes sociais, negócios, o jornal, supermercado, e comemos num restaurante português. Os meus alunos também participam de uma telecolaboração e, uma vez por semana, conectam com alunos de inglês no Brasil e falam durante uma hora. Além disso, eles fazem vários projetos em que têm que procurar e entrevistar falantes de português no campus para produzir um podcast ou um vídeo.


Simone Sandes Tosta (Casa do Brasil no México): De maneira geral, meu curso se centra mais em questões sobre o Brasil, falantes brasileiros, e questões brasileiras. Em um dos cursos, temos um capítulo sobre a origem da Língua Portuguesa e a expansão do Português no mundo. Mas, realmente, é apenas um capítulo em um curso completo de 6 níveis.


Diniz Borges (Tulare Union High School e College of the Sequoias, EUA): Utilizando as novas tecnologias e como estou junto de uma comunidade de língua portuguesa utilizamos festas e acontecimentos culturais da comunidade, assim como convidados que falam com os alunos.


Ana Clotilde Thome Williams (Northwestern University, EUA): De muitas formas: convido a diáspora para eventos que organizo ou vou atrás de falantes nativos com atividades pela internet, por skype, youtube, etc.


Cassia De Abreu (San Diego State University e University of California San Diego, EUA): Falo dos países de língua oficial portuguesa. Estudo pessoas famosas do mundo lusófono com os alunos. Eles pesquisam bibliografia de alguns. Projeto final PORT 101 é sobre estas pessoas.


Eugênia Fernandes (University of California, Davis, EUA): Desde visitantes falantes de português à reflexão sobre literatura contemporânea. Discutimos, por exemplo, sobre a culinária provando diferentes sabores lusófonos. Fizemos fufu na semana anterior!


Liliane Santos (Universidade Lille 3, França): Temos um projeto extraordinário, intitulado "Memórias da imigração lusófona na região Nord-Pas de Calais". O site vai ser publicado em breve.


Christiane Moises (Universidade de Brasília e Instituto Rio Branco - MRE, Brasil): Através da identidade cultural que tento resgatar em aula.


Denise Barros Weiss (Universidade Federal de Juiz de Fora, Brasil): Quando tenho alunos de nível iniciante, é difícil tocar nessas aspectos das diferenças entre as realidades. Entretanto alunos de nível intermediário têm mais condições de compreender as questões linguísticas e não-linguísticas envolvidas. Com esses alunos mostro diferentes sotaques. Quando tenho alunos mais avançados, trabalho com vídeos. Mas sinto falta de material que trate do assunto de modo mais adequado para os alunos.

 

 

9. Qual é o maior desafio ao ensino de português hoje? 


Luis Gonçalves (Princeton University, EUA): A estabilidade política e a atividade económica foram os motores que encheram as nossas aulas há uns anos. O maior desafio hoje é ultrapassar a imagem internacional de caos económico/político que os países de língua portuguesa atravessam e voltar a criar um ambiente de confiança na língua portuguesa como um veículo de novas oportunidades.


Simone Sandes Tosta (Casa do Brasil no México): Treinar bons professores e atualizá-los de maneira constante, em práticas, novas abordagens e discussões sobre temas pertinentes para o ensino e formação continuada do professor.


Diniz Borges (Tulare Union High School e College of the Sequoias, EUA): Criar oportunidades para os alunos utilizarem a língua fora da sala de aula.
Ana Clotilde Thome Williams (Northwestern University, EUA): Manter sempre um bom número de estudantes nos programas excelentes que preparamos.


Cassia De Abreu (San Diego State University e University of California San Diego, EUA): Materiais pedagógicos. Quando vou ao Brasil vou a livrarias e cato o que posso. Até em lojas de brinquedos pedagógicos.


Eugênia Fernandes (University of California, Davis, EUA): A falta de materiais didáticos apropriados e, principalmente, a não integração entre os pares interessados em língua portuguesa. A convergência de interesses nos colocaria um passo à frente.


Liliane Santos (Universidade Lille 3, França): Mesma resposta que para a pergunta 6.


Christiane Moises (Universidade de Brasília e Instituto Rio Branco - MRE, Brasil): Plurilinguismo e professores bem formados em conhecimento geral.


Denise Barros Weiss (Universidade Federal de Juiz de Fora, Brasil): O maior desafio, no Brasil, na universidade, é lidar com o desconhecimento dos alunos brasileiros, professores em formação, em relação à área de português como língua estrangeira e fazê-los se prepararem para os desafios de ser professor.


Isabel Margarida Duarte (Universidade do Porto, Portugal): Mostrar que é uma língua pluricêntrica e por isso mesmo cheia de força. Conseguir tornar-se língua internacional e língua de ciência. Coordenar os esforços dos países da CPLP para ações conjuntas que mostrem que a língua é uma com as suas variedades.

 

 

10. Qual foi o maior reconhecimento pelo seu trabalho que você já recebeu? 


Simone Sandes Tosta (Casa do Brasil no México): Acho que são conquistas do dia a dia nesses quase 20 anos. Primeiro, ser uma professora do meu próprio idioma, para brasileiros, e depois ensinar minha língua para estrangeiros e ter a satisfação de ver os resultados dessa prática. Hoje tenho ex-alunos que são professores ou tradutores na escola que criei e isso é muito gratificante. Formei e treinei brasileiros que não eram professores de carreira, e hoje trabalham comigo. Fomos a primeira escola de dedicação exclusiva ao ensino português na Cidade do México, e a primeira e única instituição de iniciativa privada reconhecida como Posto Aplicador do Exame Celpe-Bras.


Diniz Borges (Tulare Union High School e College of the Sequoias, EUA): Prémios de entidades do ensino, da comunidade e de Portugal – maior prémio é quando um aluno, ao fim de anos ainda se lembra de nós e fala da sua experiência com a língua portuguesa com muito carinho.


Ana Clotilde Thome Williams (Northwestern University, EUA): Um prêmio:The "Excellence in Teaching Foreign Languages Award". A cada ano, um professor de línguas estrangeiras é premiado. Fui a segunda professora da Northwestern a receber esse prêmio.


Cassia De Abreu (San Diego State University e University of California San Diego, EUA): Recebi um certificado de reconhecimento como Most distinguished Faculty in the Life of a student who graduated with Honors in the International Business program at SDSU in 2014.


Eugênia Fernandes (University of California, Davis, EUA): O MRE do Brasil redigiu um relato sobre meu leitorado como destaque no contexto internacional com colaboração, igualmente, do embaixador brasileiro em atividade naquele período.


Liliane Santos (Universidade Lille 3, França): Oficial, um prêmio do governo francês. Dos alunos, aquele brilho no olhar.


Christiane Moises (Universidade de Brasília e Instituto Rio Branco - MRE, Brasil): Muitos! Convites para palestrar, oficinas de professores, revisora de textos e livros acadêmicos, etc... mas o melhor é ver alunos agradecendo pela proficiência atingida através de minha orientação!


Denise Barros Weiss (Universidade Federal de Juiz de Fora, Brasil): Esse caso não é propriamente um reconhecimento do meu trabalho, mas um registro de como as aulas de PLE mudam perspectivas dos alunos que delas participam. Alunos sul-coreanos e japoneses, cujos países são historicamente separados por questões políticas e econômicas, passam a conviver em harmonia e se tornam amigos aqui no Brasil. A língua portuguesa é o que os une e o que lhes permite conhecer o outro sem as barreiras que levantam em suas respectivas comunidades de origem.


Isabel Margarida Duarte (Universidade do Porto, Portugal): Testemunhos positivos de ex-estudantes.


Luis Gonçalves (Princeton University, EUA): Um dia, cheguei ao meu escritório na Princeton, era o meu aniversário, e um grupo de alunos tinha colocado balões, faixas, estrelinhas e mensagens de feliz aniversário e, como eles sabem que eu não como carboidratos, cozinharam e trouxeram para a aula um bolo de chocolate low-carb para mim. O carinho deles é o maior reconhecimento.
 

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