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A preposição – Nosso Idioma

–Preciso de outro formulário, desculpe-me errei meu nome.

– Mas vejo que está escrito corretamente: MARGARIDA DE PATROCINIO, Ah! Já entendi, não é de Patrocínio, mas “do” Patrocínio, correto? Eu mesma corrijo para a senhora.

Apenas uma preposição.

– Não. Está errado mesmo. Eu não sou mais de Patrocínio.

– O que houve?

– Ele morreu.

– Como assim? Quem morreu?

– O Patrocínio.

A funcionária parecia não entender nada:

– Senhora, afinal, qual é o seu sobrenome?

– De Souza, Sou Margarida de Souza. Mas de Souza, não sou mulher não, Deus que me defenda, o Souza se casou no ano passado, com minha prima segunda.

Crendo que estava diante de alguém que não regulava bem da cabeça, a funcionária lhe entregou outro formulário sem mais perguntas. Coitada da Margarida, já estava viúva há 7 meses e, ainda assim, não havia se acostumado com duas coisas: não era mais do Patrocínio e ali em Santa Catarina, quase ninguém entendia a sua cultura paraibana.

Ela nasceu e viveu na Paraíba, de onde saiu contra vontade, depois de ter ficado viúva aos 39 anos. Por lá, ainda nos dias de hoje, a mulher casada é chamada pelo nome do marido, com direito a preposição e tudo. Assim sempre foi com suas primas e amigas, A Rita de Zé do Queijo; Janete de Severino; Leonor de Anastácio e, desse modo, com ela não poderia ser diferente: Margarida de Patrocínio.

Margarida preencheu tudo de novo e entregou o formulário e a foto. A funcionária digitalizou as informações e em 15 minutos ele estava pronto. Entregou-o em suas mãos. Ela olhava atentamente o seu primeiro crachá de funcionária: auxiliar de serviços gerais. Era seu primeiro emprego de carteira assinada. A funcionária curiosa com a demora de Margarida em olhar tanto para o crachá, perguntou-lhe:

– Sra. Margarida, não gostou da foto?

– Da foto eu gostei, até que saí bonita. Mas o que não gostei mesmo foi de Souza, eu nunca fui com a cara do sujeito. Eu gostava mesmo era de ser de Patrocínio. E lá se foi ela meio desapontada bater o ponto em seu primeiro dia de trabalho.

*Lucia Wenceslau dos Santos é professora de português e espanhol. Estudou na Universidade Metodista de São Paulo. Atualmente reside na Flórida – Estados Unidos. É membro da AOTP, trabalha com ensino de Língua Portuguesa para Estrangeiros e é voluntária na VFP (Fundação Vamos Falar Português).

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