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Qual o real acesso e a real necessidade de produção linguística dos aprendizes de línguas de herança

A decisão familiar de proporcionar a oportunidade de adquirir e manter uma língua de herança é muito importante e requer empenho de todos os envolvidos: pais, família distante, professores e comunidade. Vejamos o que o professor emérito e doutor em bilinguismo François Grosjean comenta:

Para a manutenção de uma língua é preciso atentar para alguns fatores: primeiro, à quantidade de exposição às línguas que queremos transmitir e manter; segundo, à necessidade do uso delas; terceiro, para a natureza dos recursos que utilizamos para essa transmissão e manutenção; quarto, como a família age em relação à língua de herança; e, quinto, para o valor que dada língua de herança tem na comunidade em que se vive. (François Grosjean. Bilingual: life and reality. 2010 – tradução minha)

Como Grosjean e outros pesquisadores sobre bilinguismo observam a aquisição, a manutenção e o desenvolvimento de uma língua de herança tem relação direta com a quantidade e qualidade de insumo (input) e de produção (output) de linguagem do aprendiz. Isto quer dizer: para manter e desenvolver uma língua é necessário que a criança tenha uma certa quantidade e qualidade de exposição diária, como também que ela participe de atividades como sujeito ativo que comunica algo. Lembremos que as crianças são pragmáticas: o aprendizado e a manutenção de uma língua de herança deve se dar por meio de situações reais de interação comunicativa.

Johanne Paradis (2011) observa ainda que, para falantes de herança, atentar para a qualidade de insumo (input) é um fator muito relevante. Suas pesquisas indicam que qualidade de insumo significa ter acesso a diferentes registros linguísticos, a interlocutores proficientes e a atividades complexas como aulas extracurriculares, brincadeiras, leitura, enfim, situações ativas de comunicação.

É sobre a qualidade de insumo e de produção linguística que Grosjean está falando quando comenta que devemos atentar para a natureza dos recursos de transmissão e de manutenção da língua. São consideradas de qualidade as formas ativas de interação, como ler ou ouvir uma história e ter que recontá-la, ler e ter que discutir um assunto, falar com a família distante ou com alguém (narrar e descrever as ações diárias e acontecimentos, dar opinião e argumentar sobre algo com frases complexas), brincar com alguém, participar de jogos que requeiram a construção de palavras ou histórias. São consideradas formas passivas de interação: ouvir músicas ou histórias, assistir à televisão, DVDs, jogos eletrônicos, enfim, relações que não exijam produção de linguagem, etc.

Qual o total de horas diárias de exposição e de produção ativas a que os aprendizes têm acesso à língua de herança? Qual o total de horas diárias de exposição passiva? Esses dados podem ajudar pais e professores a refletirem sobre o real acesso e a real necessidade de produção linguística dos aprendizes em casa. A partir desses dados e da reflexão sobre eles, pais, professores e iniciativas podem formar parcerias que ajudarão a família a oferecer situações de interação comunicativa de qualidade, o que será fundamental para a manutenção da língua de herança.

* Texto publicado originalmente na plataforma Brasileirinhoswordpress: https://brasileirinhos.wordpress.com/2015/03/09/qual-o-real-acesso-e-a-real-necessidade-de-producao-linguistica-dos-aprendizes-de-linguas-de-heranca-em-suas-casas/

** Ivian Destro Boruchowski, MEd Professora, autora e pesquisadora sobre bilinguismo e línguas de herança.

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