Brasil: um país de várias línguas (Parte 1) – Nosso Idioma
Se ouvirmos três pessoas de regiões distintas do Brasil, falando separadamente sobre suas realidades, ficaremos surpresos com a diferença de vocabulário, com as expressões idiomáticas usadas em seus locais de origem, bem como a musicalidade de suas sentenças.
No Brasil, cada região tem sua própria musicalidade. Sim! Nossa língua é uma sinfonia musical, cheia de altos e baixos em pronúncia, e isso se dá essencialmente por causa das diversas influências em nossa colonização.
Um dos sotaques mais próximos ao português de origem – o português lusitano – encontra-se no sul do país, no Estado de Santa Catarina. Naquela rica região, com mais de cinco grupos que marcaram a colonização local, encontra-se entre eles o Açoriano. Estes descendentes diretos de famílias lusitanas povoaram o sul do país em grande número, entre 1617 e 1753, com 1.175 casais açorianos, totalizando 6.492 pessoas. Esse grupo, buscando novos horizontes, uma qualidade de vida onde pudessem manter suas tradições e implementar suas atividades, encontrou no Sul do país um ambiente favorável para desenvolver a pesca, manter suas famílias unidas, e perpetuar seu estilo único de fala. Os catarinenses de Florianópolis são um exemplo nato dessa expansão moderna. De fala rápida, marcada por altos e baixos muito bem acentuados, e com expressões muito performáticas, constituem grande parte dessa cultura que nos permite entender melhor a estrutura da língua falada. O português do “ilheu” de Florianópolis resiste ao tempo e espaço, e o TU, pronome hoje quase que extinto na linguagem contemporânea, exigindo uma conjugação mais delicada, é a marca registrada desse povo. O catarinense de Florianópolis é muito conhecido pela máxima “SE QUERES, QUERES; SE NÃO QUERES, DIZ”, e no espanto de uma ação qualquer, soltam um longo “CAPAZ!!!”, como forma de expressar sua admiração, dúvida ou agrado de algo que lhes chame a atenção.
(Continua na próxima coluna)
* João Brandão Junior. Carioca de Botafogo, PHD em Antropologia Social. Pela Universitat de Barcelona, Mestre em Antropologia Social pela USP – Universidade de São Paulo. Possui três graduações: História (UPS), Direito (PUC-SP) e Relações Internacioanis (PUC-RJ).