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Mitos e verdades sobre a aprendizagem de duas ou mais línguas ao mesmo tempo (Parte 2) – Nosso Idiom

Existe um mito forte que deve ser abandonado pelos pais: o de que as crianças serão alfabetizadas na segunda língua. A coisa não funciona assim. Quando aprendemos uma nova língua, não somos realfabetizados na mesma: nós adquirimos vocabulário, entendemos a gramática, as construções da mesma e partimos para a comunicação. Já fomos alfabetizados em uma língua e saber ler e escrever é um conhecimento que se transfere de uma língua para a outra, mesmo que aos poucos, conforme se aprendem os fonemas de cada letra. Portanto, programas eficazes de ensino de língua são aqueles que partem para o desenvolvimento da comunicação, desenvolvimento de vocabulário e construção de sentenças, com a base gramatical sendo ensinada ao longo desse caminho.

Atualmente, não se ensina língua estudando a gramática ou fazendo tradução, como antes. Hoje, a competência comunicativa vem em primeiro lugar, ou seja, a aplicação da língua adquirida em situações reais de comunicação é o foco. Além disso, crianças de até mais ou menos 8 anos vão aprendendo a língua sem mostrar o que sabem, até que um belo dia “soltam o verbo”. E fazem associações maravilhosas, entendendo que estão falando a nova língua.

Neste momento maravilhoso e intenso de aprendizagem, devemos ter cuidado com as intervenções que fazemos para corrigir o erro eventual. Não podemos cortar as primeiras associações na nova língua com um brusco “Isso está errado!” ou “Não é assim que se fala”. Vejam essa história real de uma amiga querida: “Meu filho me contando uma história de piratas, diz: “Os piratas ERAS do mal”. Eu, do alto da minha sapiência, digo: “Ahhh, os piratas ERAM do mal”. Ele responde: “Não. Eles ERAS do mal. Tinha mais de um pirata!” Claro que o tempo verbal correto é “eram”, mas ele fez uma associação de plural superinteressante para uma criança de quatro anos. A mãe, professora que é, entendeu e fez a correção mais à frente. Ele aprendeu o certo , mas ela não cortou o processamento dele. Ele continuará a fazer associações, algumas certas, outras erradas, mas aprendizado de línguas é assim mesmo.

Outro benefício desse tipo de intervenção cuidadosa é que a criança terá uma autoestima forte a respeito da língua, por se sentir capaz de se comunicar na mesma. Com um sentimento positivo a respeito da língua, que na maioria das vezes é criado em casa, a criança bilíngue não encontrará dificuldades em se comunicar na “outra” língua. Por isso, especialistas afirmam que a segunda língua deve ser usada em situações positivas, de carinho, de alegria, especialmente no início da aprendizagem. Os pais não devem usar a segunda língua para brigar, repreender em público (mesmo que os colegas não saibam, eles entendem a linguagem não verbal, como por exemplo gestos e tom de voz), mas sim em situações positivas.

O mais importante é manter nossos brasileirinhos em contato com o português das maneiras mais variadas possíveis em casa, ter sempre contato social com outros brasileiros para que as competências socioculturais se solidifiquem e colocá-los na escolinha de português para que aprendam o português padrão e se tornem plenamente bilíngues em inglês e em sua língua de herança. Sem medo, sem erro.

*Valeria Sasser é coordenadora-geral do projeto Contadores de Estórias, membro do Conselho de Cidadãos de São Francisco e coordenadora do Núcleo Educacionista da Califórnia.

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