Como nossos estudantes aprendem a língua portuguesa na OAU – Nosso Idioma
Em primeiro lugar, quero relatar que é uma alegria e um desafio constante o ensino de um idioma, principalmente o Português, que possui inúmeras nuances, regras e exceções à regra.
Mas para prosseguir falando sobre o ensino de Português na modalidade de Língua Estrangeira, quero me reportar ao meu atual trabalho como professora leitora pelo Itamaraty, através da Divisão de Promoção da Língua Portuguesa em convênio com a Universidade Obafemi Awolowo, Nigéria.
O aprendizado de um outro idioma além do idioma pátrio é uma necessidade primordial em nosso mundo globalizado, mesmo que você esteja fora da universidade. Porém, no âmbito da universidade, o domínio de idiomas é fundamental, pois proporciona oportunidades de abrirmos novas janelas para o mundo e para a sociedade. Os nossos estudantes apropriam-se do Português em um primeiro momento associando-o com os vocábulos do Inglês, que é o idioma do colonizador, pois a Nigéria foi no passado colônia da Inglaterra. Mas o idioma original/nativo é o yoruba, o haussa ou o ybo, dependendo da etnia à qual o aluno pertence na sua origem e tradição.
Desde a tenra idade, as crianças aqui na Nigéria estão habituadas a ouvir e a falar no mínimo dois idiomas distintos, seja no recesso do lar ou no cotidiano escolar. E, se futuramente optarem pelo estudo de idiomas na universidade, conviverão com interessantes possibilidades e conhecimentos, como por exemplo, a língua inglesa, a língua alemã, a língua francesa e o português, que poderá ser combinado aos demais. Há ainda a oportunidade de estudos no Programa de Mobilidade Acadêmica, que consiste em um convênio entre a OAU (Obafemi Awolowo University) e a UFBA (Universidade Federal da Bahia) no qual os alunos realizam um ano de estudos na área de Letras na Bahia complementando e enriquecendo o aprendizado iniciado na Nigéria.
Retomando o viés do dado cultural em diálogo com a língua, temos no Curso de Língua Portuguesa a nossa vasta produção literária que é revisitada durante o Curso em diferentes disciplinas específicas (Literatura); também as pesquisas monográficas privilegiam em seus temas os autores brasileiros.
Além do contributo literário, organizamos durante o semestre letivo um festival de cinema brasileiro do Departamento de Língua Portuguesa, quando assistimos a filmes da produção cinematográfica brasileira ressaltando por meio das narrativas fílmicas os aspectos da nossa identidade e da nossa cultura. Realizamos debates, troca de ideias através dos filmes e, assim, ressignificamos a aprendizagem.
Não pretendo afirmar que temos o melhor método ou que estamos com as questões metodológicas resolvidas, mas acredito que é um aprendizado peculiar, um caminho que se assemelha em alguns aspectos ao que realizamos na Ásia em 2007. Pois em Dili (Timor-Leste) também tínhamos uma realidade plural em relação aos idiomas e à cultura. O que estou propondo é a valorização daquilo que é significativo para o aprendizado. Por exemplo, quando no semestre passado solicitamos aos estudantes uma linha de tempo destacando as festas e os festivais típicos do estado de Osun, houve uma intensa e animada participação de todos, pelo motivo que foi possível aproximar as nossas celebrações e festejos brasileiros com as formas de celebração da Nigéria.
A música e a poesia são também recursos importantes tanto no aspecto cultural como na musicalidade e sonoridade características da Língua Portuguesa que se evidenciam nestes textos.
Acredito que quando estabelecemos o diálogo e a interação entre o Brasil e a Nigéria nos diversos aspectos e possibilidades que o ensino de PLE nos permite, estamos realizando uma leitura de mundo. Recordemos Paulo Freire, um educador brasileiro, que acreditava na educação e no aprendizado para a vida como uma forma de inserção dos sujeitos na sociedade, adquirindo voz e vez, seja pela apropriação do conhecimento ou pela curiosidade epistemológica.