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A Hora de Clarice – Nosso Idioma

“Enquanto eu tiver perguntas e não houver respostas… continuarei a escrever.” (A Hora da Estrela, Clarice Lispector)

A partir deste ano, o dia 10 de dezembro tornou-se o dia de Clarice Lispector, data da morte de uma das autoras mais lidas da língua portuguesa. Esta homenagem foi inspirada pela tradição irlandesa de homenagear James Joyce com um dia de eventos, o Bloomsday. Os eventos espalharam-se por Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre, Belo Horizonte, Curitiba, Belém e Recife. “A Hora de Clarice” envolveu bate-papo, história para crianças, lançamentos de livros sobre a autora, palestras e leituras em livrarias, em centros culturais e em estações de metrô, como também um passeio guiado pelo Bairro do Leme, no Rio de Janeiro, onde ela morou.

Como acredito que melhor que escrever sobre Clarice é ler Clarice, aqui vai uma pequena coletânea de trechos que me intrigam e justificam minha paixão pela autora:

“Já que se há de escrever, que pelo menos não se esmaguem com palavras as entrelinhas.” (A legião estrangeira. Clarice Lispector)

“Há três coisas para as quais eu nasci e para as quais eu dou minha vida. Nasci para amar os outros, nasci para escrever, e nasci para criar meus filhos. O ‘amar os outros’ é tão vasto que inclui até perdão para mim mesma, com o que sobra. As três coisas são tão importantes que minha vida é curta para tanto. Tenho que me apressar, o tempo urge. Não posso perder um minuto do tempo que faz minha vida. Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca.” (Aprendendo a viver, Clarice Lispector)

“Estou desorganizada porque perdi o que não precisava? Nesta minha nova covardia – a covardia é o que de mais novo já me aconteceu, é a minha maior aventura, essa minha covardia é um campo tão amplo que só a grande coragem me leva a aceitá-la –, na minha nova covardia, que é como acordar de manhã na casa de um estrangeiro, não sei se terei coragem de simplesmente ir. É difícil perder-se. É tão difícil que provavelmente arrumarei depressa um modo de me achar, mesmo que achar-me mesmo seja de novo a mentira que vivo.” (A paixão segundo G.H., Clarice Lispector)

“Se há veracidade nela – e é claro que a história é verdadeira embora inventada – que cada um a reconheça em si porque todos nós somos um e quem não tem pobreza de dinheiro tem pobreza de espírito ou saudade por lhe faltar coisa mais preciosa que ouro – existe a quem falta o delicado essencial.” (A Hora da Estrela. Clarice Lispector)

“Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento.” (Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres, Clarice Lispector)

Clarice também nos deixou Literatura Infantil numa linguagem aconchegante. Ofereça as obras aos pequenos: O mistério do coelho pensante; A mulher que matou os peixes; A vida íntima de Laura; e Quase de verdade.

“A coisa especial que acontecia com aquele coelho era também especial com todos os coelhos do mundo. É que ele pensava essas algumas ideias com o nariz dele. O jeito de pensar as ideias dele era mexendo bem depressa o nariz. Tanto franzia e desfranzia o nariz que o nariz vivia cor-de-rosa. Quem olhasse podia achar que pensava sem parar. Não é verdade. Só o nariz dele é que era rápido, a cabeça não. E para conseguir cheirar uma só ideia, precisava franzir quinze mil vezes o nariz.” ( O mistério do coelho pensante. Clarice Lispector)

Clarice escreveu sobre si:

“Nasci na Ucrânia, terra de meus pais. Nasci numa aldeia chamada Tchetchelnik, que não figura no mapa de tão pequena e insignificante. Quando minha mãe estava grávida de mim, meus pais já estavam se encaminhando para os Estados Unidos ou Brasil, ainda não haviam decidido: pararam em Tchetchelnik para eu nascer, e prosseguiram viagem. Cheguei ao Brasil com apenas dois meses de idade.

Sou brasileira naturalizada, quando, por uma questão de meses poderia ser brasileira nata. Fiz da língua portuguesa a minha vida interior, o meu pensamento mais íntimo, usei-a para palavras de amor. Comecei a escrever pequenos contos logo que me alfabetizaram, e escrevi-os em português, é claro. Criei-me em Recife.

(…) Não têm pessoas que cosem para fora? Eu coso para dentro.

(…) Às vezes tenho a impressão de que escrevo por simples curiosidade intensa. É que, ao escrever, eu me dou as mais inesperadas surpresas. É na hora de escrever que muitas vezes fico consciente de coisas, das quais, sendo inconsciente, eu antes não sabia que sabia. (…)”

(A paixão segundo C.L., Berta Waldman)

Procure obras e leia comentários críticos sobre a autora em: http://www.claricelispector.com.br/

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